
Para lembrar a “guerra em curso” e combater o “cansaço” acerca do tema, a comunidade ucraniana marcha pela paz em Coimbra, este sábado, 24 de fevereiro, dia em que se assinalam dois anos da invasão russa à Ucrânia.
Milhões de ucranianos, na maioria mulheres e crianças, deixaram para trás a vida que tinham construído em busca de estabilidade e de um país seguro para viver. Homens e mulheres ficaram no campo de batalha a lutar por um país que está a ser consumido pela morte e pela destruição através da “intervenção militar” do regime de Vladimir Putin.
Cerca de 3,7 milhões de pessoas continuam deslocadas na Ucrânia, enquanto 6,5 milhões estão refugiadas em outros países, segundo dados a Organização Internacional para as Migrações.
Portugal foi um dos países que os recebeu. Apesar da barreira linguística, Olga Filipova disse à Central Press que os portugueses têm os “braços abertos para acolher e ajudar” quem chega.
Quando eclodiu o conflito, a ativista estava a viver em Berlim, na Alemanha, e conta que, em Coimbra, estava uma amiga – Oksana – que ajudou de múltiplas formas.
“Ela esteve a ajudar muito os refugiados que chegaram a Coimbra. Ajudou a procurar alojamento, medicamentos, fraldas e leite. Mas para além deste trabalho, ainda havia trabalho de logística.” – explicou.
Em Berlim, Olga Filipova viu muitos refugiados a voltarem ao país de origem, “porque não se adaptaram e tiveram saudades das famílias”. Os pais da ativista estavam no leque de pessoas que voltaram à guerra.
“Quando começou a guerra, os meus pais foram para Berlim, mas não quiseram ficar e voltaram à Ucrânia. Sentem-me melhor, apesar dos bombardeamentos todos os dias. A tua casa é a tua casa.” – revelou.
Há ucranianos, a viver em Coimbra, que já não têm casas no seu país, por isso não conseguiram voltar. “Os russos destruíram tudo” – sublinhou. Apesar de não existir um número certo, Olga Filipova afirmou que existem perto de 50 a 100 ucranianos a viver na cidade.
Volvidos dois anos, o conflito é a nova normalidade, porque desconhecem se vão voltar ao que era antes. Por enquanto, “toda a gente está a viver a vida normal, aliás um pouco mais intensamente, porque cada dia pode ser o último” – disse. Mas “ninguém se consegue habituar a levantar-se às cinco da manhã todos os dias por causa dos mísseis. Não te consegues habituar, mas consegues adaptar a tua vida para viver isto. Agora já ninguém tem esperança que isto acabe rápido, até porque os parceiros internacionais também não estão a ajudar muito. A Ucrânia necessita de armamento e tem sido escasso. Só com as pessoas, os ucranianos não conseguem combater o inimigo” – contou.
Para assinalar a resiliência deste povo, sábado, a Praça da República vai acolher, a partir das 16h00 o evento “Acreditar na Ucrânia: Uma Década de Resiliência”, que alude ainda à invasão da península da Crimeia pela Rússia, em 2014.
Segue-se uma marcha de solidariedade até à Câmara Municipal de Coimbra. A iniciativa é aberta a toda a comunidade e vai decorrer também noutros pontos do país. “O objetivo é relembrar a guerra em curso. Nós sabemos que as pessoas estão cansadas” – concluiu Olga Filipova.