Secretária-geral do Núcleo Regional do Centro da Liga Portuguesa Contra o Cancro, Natalia-Amaral @Centro Cirúrgico de Coimbra

Rastreio baixa taxa de mortalidade por cancro do colo do útero na Região Centro

27.01.2024

A cada 100 mulheres, 11 morrem de cancro do colo do útero em Portugal. Estes são os últimos dados a que o Núcleo Regional do Centro da Liga Portuguesa Contra o Cancro teve acesso. Na Região Centro, os rastreios fizeram com que a taxa de mortalidade passasse de 13% para 11%.

 

De 22 a 28 de janeiro assinala-se a Semana Europeia de Prevenção do Cancro do Colo do Útero, que tem sempre na sua origem a infeção pelo Papilomavírus Humano (HPV) de alto risco.

 

Em entrevista à Central Press, a secretária-geral do Núcleo Regional do Centro da Liga Portuguesa Contra o Cancro (NRC.LPCC), Natália Amaral, afirma que se trata do “tumor mais horroroso que há, porque quando evolui, a pessoa não tem qualidade de vida. Para além das dores, a pessoa praticamente não pode estar acompanhada, porque é um cheiro terrível. Acaba por levar muitas mulheres ao isolamento”.

 

O cancro do colo do útero é uma doença silenciosa, cujos sintomas são apenas detetados numa fase mais avançada. Nessa altura, existem hemorragias, por norma durante uma relação sexual, um cheiro intenso e perturbações urinárias.

 

Natália Amaral explica que “o tumor vai evoluindo e as células normais são substituídas por células alteradas e que morrem. A vagina tem alguns germes, que são perfeitamente normais, mas nestas situações, acabam por chamar, digamos assim, àquele local, outras bactérias e microorganismos que provocam o cheiro terrível”.

 

A doença é fundamentalmente transmitida por relações sexuais. Todas as mulheres estão sujeitas à infeção pelo HPV após o início da sua atividade sexual.

 

De acordo com a ginecologista, “85% são de transmissão sexual, mas uma pessoa que está com uma baixa de imunidade, a fazer um tratamento, seja ele qual for, ou por ter uma doença oncológica, [nessa altura], o vírus pode instalar-se”.

 

Fica o alerta de que há casos em que “a mulher, em idade fértil, teve contacto com o vírus e não com a doença, mas ele fica introduzido nas células. Pode não ser imediato, [mas o vírus] pode manifestar-se passado anos”, explica a especialista.

 

A secretária-geral do Núcleo Regional do Centro da Liga Portuguesa Contra o Cancro refere que o cancro do colo do útero é uma “doença que tinha uma incidência bastante elevada, mas que há um rastreio e uma vacina eficazes [para a prevenir]”.

Numa primeira fase, existe a vacinação. As meninas podem começar a ser vacinadas aos nove anos e “fazem só duas ampolas, a partir dos 13 anos, já fazem três ampolas”. Trata-se de uma vacina que atua contra nove vírus, ainda assim, “pode aparecer alguma lesão, mas muito simples, nunca um vírus de alto risco 16 e 18, o que se pretende é que impedir é o cancro”.

 

A vacina do HPV não é exclusivamente para o sexo feminino, também os homens se podem vacinar. “Não há evidência científica para manter a vacina para depois dos 26 anos nos homens. Mas até lá podem vacinar-se perfeitamente”, esclarece Natália Amaral.

 

A secretária-geral do NRC.LPCC avança que há uma campanha que a Liga Portuguesa Contra o Cancro aderiu em que mulheres até aos 45 anos são vacinadas. “Muitas mulheres que não foram vacinadas em jovem podem ser vacinadas realmente até aos 45 anos, ou depois do tratamento das lesões provocadas pelo vírus, devem fazer a vacinação”, alerta.

 

O rastreio é também uma forma de prevenir e deve ser sempre feito numa consulta de ginecologia. Caso existam motivos de alarme, devem continuar a investigar e a fazer exames. “Todos os colegas das tecnologias em obstetrícia podem fazer o diagnóstico e as lesões podem ser tratados. Numa fase destas não quer dizer que tenha o tumor, mas deve realmente tratá-lo para evitar que eles se desenvolvam e que estas alterações acabem por se desenvolver e formar o tumor. Uma situação destas pode levar dez a onze anos” – explica Natália Amaral.

 

O rastreio e a vacinação, cuja taxa de eficácia é de 97%, fizeram com que na zona centro a taxa de mortalidade tivesse reduzido.

 

“Na zona centro, nós começamos com um rastreio, há algum tempo, e já baixámos a taxa de mortalidade. Estava em cerca de 13% e passamos para 11%, isto é significativo. Nem que seja uma vida que se poupe já é significativo, daí a importância que damos de facto esta semana e à sensibilização” – revela Natália Amaral.

 

O cancro do colo do útero “tem cura, se for numa fase muito inicial, com dimensões ainda muito pequenas. É por isso que falamos no diagnóstico precoce. Quanto mais precoces forem os diagnósticos em qualquer localização tumoral, tanto melhor a evolução”.

 

Relativamente ao tratamento, “se é numa fase muito inicial, começa-se pela cirurgia, e pode-se fazer radioterapia com quimioterapia ou em associado. O tratamento secundário é de acordo com as manifestações que o tumor vai tendo”.

 

Questionada sobre a fertilidade, Natália Amaral explica que “uma mulher que tem um tumor do colo do útero, se ele tiver determinadas dimensões, ela pode fazer uma cirurgia conservadora, mas tem que ser sempre seguida. Se for um tumor já com dimensões que já não dê para conservar, aí está em risco a fertilidade”.